terça-feira, 1 de março de 2011

Caminhos da salvação

Marco Dias
                                                                                  
                                                                         
Lembro de um corretor que sempre dava risadas quando falava das historias de um construtor que ligava toda semana para cobrar venda dos seus imóveis, e começava a conversa sempre com a mesma frase: "Fora da venda não há salvação".

Mais que motivo de piada, a frase acabou virando um adágio, uma máxima de uso corrente em nossas reuniões por aqueles tempos. Quando discutíamos em equipe os clientes potenciais de cada um dos corretores, sempre vinha ela...fora da venda não há salvação...

E tanto trabalhou o corretor pelo empreendimento que havia angariado, tanto fez criando anúncios criativos, pensando em novos argumentos de venda, tirando novas fotos,  que acabamos vendendo todas as unidades. Mas hoje me pergunto: por que alguns imóveis de boa qualidade e localização demoram para vender?

Talvez a resposta seja aquele 'algo mais' que tantas vezes falta ao imóvel.

Explico: é aquilo que acaba faltando em qualquer coisa que a gente faça seguindo estritamente os roteiros do trivial, do feijão com arroz, sem um algo mais que dê personalidade própria à obra. É isso, alguns imóveis sofrem desse "defeito" de serem muito certos, quase óbvios, sem a capacidade de encantar o comprador.

Pois bem, quando o construtor não permite que esse defeito do lugar comum se apodere do imóvel já no seu nascimento, ou ainda quando quem o comprou já com a doença dá o bom tratamento com uma reforma que o livre dessa tal mesmice patológica, a salvação é sempre mais fácil.

Caso contrário o "milagre da salvação" sempre sobra para o corretor. Tá rindo? Pode rir, mas é a verdade, nua e crua.

E não estou aqui teclando essas linhas para reclamar dos ócios ou ossos do ofício. Muito pelo contrário. Tenho a convicção de que a capacidade da abstração e das boas ideias são imprescindíveis ao corretor de imóveis. Para ser bom ele tem que ser um pouco engenheiro, arquiteto, urbanista, jurista e economista, e acima de tudo um vendedor. Podemos dizer que o corretor de imóveis ideal deve ser como o canivete suíço que a partir de sua própria experiência e aprendizado desenvolveu  todas as suas ferramentas e aprendeu a usá-las.

Boas ideias, realizáveis com baixo custo, que melhorem a estética, a comodidade, a convivência social, circulação de ar, a iluminação, praticidade... são poderosos argumentos de venda. Para chegar a elas o corretor deve conhecer bem a mercadoria e ter a capacidade de fazer uma rápida leitura das necessidades do comprador.

Resumindo: sem entender o que o comprador precisa e sem conhecer a mercadoria que se está oferecendo, não vão surgir ideias que permitam uma identificação entre ambos. Não haverá venda nem salvação. Ficaremos no purgatório, aguardando um lance de sorte com a aparição do comprador perfeito ou seremos mandados pra o inferno pela concorrência de plantão.

Essas imagens dantescas servem somente para ilustar as qualidades que o corretor deve desenvolver para enfrentar os desafios da profissão. A propósito, vale lembrar que a epopéia da alma de Dante na sua obra literária "Divina comédia", vai do inferno ao paraíso... aprendizado para a salvação. E por aqui no mundo dos vivos, o aprendizado também é decisivo. Sem ele, no nosso caso particular do mercado imobiliário, não há venda, não há salvação...

Não sei se aquele velho construtor está ainda entre nós. Espero que esteja bem. Tenho certeza de que algum dia ele reconhecerá a contribuição daquele habilidoso e esforçado corretor que salvou o seu empreendimento.  Se não for aqui na terra, que seja lá no céu, tranquilamente, lá onde não existe dinheiro, cobrança por resultados e canivetes suíços...

                   Fonte: http://blogatuante.blogspot.com

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