sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Conversa de botequim em javanês

                                                                                                                                                                                                              Lima Barreto escreveu contos geniais.      Um deles é "O homem que sabia javanês".

Segue uma palhinha da historia, resumidamente: conversando num bar com um amigo, o protagonista conta que quando estava na pindaíba arrumou um emprego de professor de javanês, sem saber sequer uma palavra do idioma, e que além de viajar pelo mundo como autoridade naquela língua exótica, chegou a Cônsul em Havana... Ao fim da conversa, os dois amigos divertem-se com a aventura.

Pois é, essa obra do grande escritor do início do século passado tem muito a falar sobre o presente, e vários ofícios.

No mercado imobiliário virou lugar comum o dito profissional que descobre um imóvel para vender e liga para seus proprietários procurando saber qual a expectativa de valor para a venda. Em seguida arrisca duas alternativas, ou afirmando que está de acordo com o mercado ou simplesmente dizendo que vale algo mais.

Por trás da "boa" conversa desse professor de javanês, está somente uma ideia: dane-se a verdade do mercado sobre os preços, importa mesmo é ter o imóvel para vender, mercadoria na prateleira.

E segue a empreitada do nosso poliglota imobiliário: pega o imóvel para vender (quase sempre sem autorização de venda). A mercadoria está fora do mercado, com uma pedida que extrapola em muito a média das ofertas e vendas por região, padrão, tamanho, tempo de construção, conservação...O mercado não assimila sua mensagem porque o significado (preço) não traduz o significante (imóvel)... Ele põe à venda algo invendável... O proprietário inicialmente fica satisfeito, tomado pela expectativa de um negócio que não vai acontecer...Frustra-se, e não realiza uma venda que  talvez precisasse.

Para o nosso herói que arrisca seu malaio no mundo dos imóveis, não tem problema. Ele não vende, mas também não investe nada, ou o mínimo possível. Basta apenas um desavisado que se encante com uma de suas ofertas fora da realidade para pagar suas continhas e sobreviver...

Pois bem, essa nossa analogia entre o universo dos imóveis e o da literatura tem somente a intenção de dizer em português claro: se você pretende realmente vender seu imóvel, procure saber se o seu interlocutor domina o léxico (o repertório: os imóveis) e a sintaxe (a lógica) do mercado.

Conversa de botequim é bom, mas tem lugar e hora...


Julio Dias 

Fonte: http://blogatuante.blogspot.com

Leia o conto: http://www.releituras.com/limabarreto_javanes.asp





    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários, críticas e sugestões são sempre bem vindos